As decisões que viram um eterno “E se…”
A ilusão de sempre achar que uma escolha poderia melhorar tudo
Uma vez, eu escutei que a fase dos 20 anos é como um funeral de todas as pessoas que você poderia ter sido, ou melhor daquelas que você sonhava em ser quando era criança. Mas, por algum motivo não conseguiu se tornar… ou simplesmente não quis achando que era apenas um doce sonho infantil. Essa frase ecoa na minha cabeça, porque eu era uma criança de imaginação fértil, todos os dias queria ser alguém diferente, como uma atriz que interpreta vários personagens ao longo da vida.
Decisões da vida adulta — ou nem tão adulta assim
Vivemos em uma sociedade que nos condiciona a tomar decisões importantes muito cedo. Como é possível exigir que jovens de 15 a 17 anos escolham qual profissão irão exercer pelo resto da vida? A pressão social e o medo de errar tomam conta desses adolescentes, paralisando eles seja pelo receio de não se encontrarem no curso escolhido, seja pelo dilema de precisar ajudar financeiramente a família. Muitos acabam optando por uma faculdade que proporcione retorno rápido ou entram direto no mercado de trabalho, abrindo mão de seus sonhos. Afinal, em uma sociedade capitalista os sonhos muitas vezes são ceifados por aquilo que traz dinheiro.
Essas decisões continuam ao longo da vida, principalmente em nossa fase adulta, sejam elas certas ou não para a nossa perspectiva, sempre vai existir um suave e incômodo “e se…?”. Uma pergunta singela mas que pode causar noites de insônia e crises de ansiedade, porque nunca sabemos com 100% de certeza se uma escolha foi a melhor escolha para a nossa vida. Na verdade, muitas vezes o que fazemos é dar um salto de fé guiados pelas nossas convicções, acreditamos que aquela oportunidade é a melhor porque parece compatível com nossas ambições, com o caminho que queremos seguir.
Afinal, o futuro está em constante construção, o que vivemos hoje é consequência das decisões que tomamos no passado. Nosso presente já foi, em algum momento, o nosso futuro, então mesmo que algo mínimo fosse alterado no passado não estáriamos exatamente como estamos agora, algo mudaria, seja para melhor ou para pior não sabemos - como o “efeito borboleta”, em que um simples bater de asas de uma borboleta pode causar um tornado no Texas.
Nem toda mudança de decisão leva a algo melhor
Quando percebemos que uma escolha não foi a melhor, caímos no questionamento de que se tivéssemos pensado de forma diferente isso teria resultados melhores, mas será isso verdade mesmo? É fácil pensar assim por causa do “Paradoxo da Escolha”, teoria apresentada pelo psicólogo Barry Schwartz, que se refere a ideia de que quanto mais opções uma pessoa tiver maior a chance de indecisão, ansiedade e até paralisia na tomada de decisões. Segundo Schwartz isso não aumenta a nossa liberdade de escolha, pelo contrário nos aprisiona, dificultando o processo e muitas levando o sentimento de insatisfação depois da escolha feita.
Somos ludibriados pela ilusão de termos o controle total da nossa vida e do romantismo que o novo carrega. Essa combinação pode ser perigosa, porque a porcentagem de controle que temos é, na verdade, muito pequena. E o novo pode brilhar aos nossos olhos, mas tudo que é belo têm seu lado de desafios, a maioria das nossas experiências vive nesse equilíbrio entre luz e sombra.
Gosto de pensar que tomei a melhor de decisão com aquilo que eu tinha no momento, porque é muito mais fácil sermos críticos com nós mesmos depois que já sabemos o resultado e também quando estamos um pouco mais experientes. Mas a verdade é que você não é mais a mesma pessoa que começou este mês, quem dirá a mesma que começou esse ano, mudanças sutis foram acontecendo dentro de você, seja elas perceptíveis ou não elas estão aí.
Estar feliz com o seu presente e saber que o futuro é mutável
Mesmo que uma decisão errada tenha sido tomada, o futuro não é uma sentença. Ele é como uma argila que vamos moldando com nossas escolhas ao longo do tempo. Se erramos hoje, temos a chance de acerta amanhã e depois e depois, todos os dias são uma nova oportunidade de fazer as coisas de maneira diferente, se for isso que desejamos. Na vida nada é definitivo, provavelmente você já passou por um momento complicado em que não via saída, mas no final você está aqui, encontrou uma luz no fim do túnel e seguiu em frente, porque é isso que é a vida, ela continua, o nosso futuro se torna o presente, o presente passa a ser nosso passado e assim por diante.
Quero deixar essa reflexão que por mais que existam sonhos, ou versões de nós que desejávamos ser quando erámos criança, nada está tão perdido assim. De algum modo ainda podemos conseguir alcançar certos anseios, como já escrevi em outros textos: você não precisa ser produtivo o tempo todo e nem tudo que você faz precisa virar sua fonte de renda. Você também não precisa ser excelente em tudo, apenas tome as decisões que mais fizerem sentindo — o não — e tente buscar sua felicidade se é isso que te move. O futuro se faz no agora e está em constante mudança.
Até a próxima e tchau tchau!
Muito obrigada por ler até aqui, que cada leitura possa te inspirar de alguma forma. Se achou o texto interessante, por favor comente, curta e compartilhe com pessoas que você gosta. Nos vemos na próxima edição, toda sexta-feira, às 14:14. Até lá, cuide-se!
A newsletter “Doses de chuvisco” foi criada para servir de diário público de questionamentos e arquivo de histórias criadas que são boas demais para ficarem apenas guardadas no meu notebook.